quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A VIDA E A OBRA DE AURÉLIO AGOSTINHO-SEQUÓIA DE DEUS.

1) Entre os Gigantes de Deus.

“ Bem Aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha e tudo quanto ele faz será bem sucedido” ( Salmo 1.1-3)

J.I. Packer em seu livro “Entre os Gigantes de Deus- Uma Visão Puritana da vida Cristã”, usou a palavra “Sequóias” para falar dos Puritanos, um grupo de cristãos do século passado, que marcaram a história da igreja entre os períodos de 1550 à 1700.

O movimento puritano tem muito a nos ensinar nesses dias difíceis, pois, eles eram “Firmes, Bíblicos e Profundamente apaixonados pela obra do Senhor”. Por causa da sua vida de Amor a Cristo e fidelidade a Deus, eles foram perseguidos, mortos, expulsos das suas terras, porém, seus exemplos continuam até hoje.

A Sequóia é uma árvore admirável. Algumas atingem 110 metros de altura e alguns troncos têm mais de 18 metros de circunferência. Ela é uma árvore durável, de vida longa. Algumas chegam até centenas de anos e nos causam admiração.
Packer tem razão, ao comparar o movimento Puritano do século passado com este tipo de árvore chamado “Sequóia”. É com esta árvore que também comparo a obra e a vida de um dos mais notáveis teólogos da igreja em toda a história. Seu nome, Aurélio Agostinho, africano, de veia poética e robustez teológica, cuja a vida, é um livro aberto. Aurélio Agostinho é o personagem homenageado na conferência do Seminário Teológico do Sul.

2) Sentando Sobre a Sombra Agostiniana

Sentar ao lado de Agostinho e ouvir os seus ensinamentos bíblicos, é um privilégio para toda a igreja, pelo menos foi durante a idade média. Agostinho foi amado, citado, criticado e honrado. Tanto Lutero como Calvino, assentaram-se sob a sombra desta árvore frondosa e dela, retiraram os pilares da reforma protestante.

Seria de grande sabedoria, nós, cristãos do século XXI, imitarmos a humildade de Calvino, Lutero e tantos outros; nos assentar e nos debruçar sobre as delícias dos ensinos bíblicos de Agostinho, pois, fazendo assim, voltaremos a pesquisar a Bíblia de maneira séria, apaixonada, doutrinária e contemplativa, afinal, essa sempre foi a intenção de Agostinho. Ele jamais desejou trazer a glória para si mesmo, do contrário, buscou exaltar os escritos sagrados e bendizer o nome de Deus, glorificando sempre a Cristo.

3) O Rastro da Graça em Agostinho: Sem Mim Nada Podeis Fazer.

Hans Von Campenhausem salienta este temor de Agostinho dizendo: “ Ele mesmo reconhecia que sua própria história, aliada á essa sua capacidade interior, não eram dons naturais, nem o efeito de uma realização pessoal, porém, o resultado do trabalho da graça divina e da orientação interior e exterior que lhe foram concedidos”.

Neste sentido, Agostinho segue o rastro do Apóstolo Paulo, quando escrevendo as suas epístolas, nunca se exaltava, mas sabia que tudo que acontecia em sua vida e ministério, era por causa da graça de Deus ( Rm.1.5;Rm.5.2;Rm.15.15;I Cor.15.10; I Cor.15.57;II Cor. 12.9;Ef.2.7; Tt.2.11 etc).

Que Deus nos ajude nesta etapa importante de nossas vidas, de repensarmos a nossa caminhada cristã, para que o seu nome seja a cada dia mais, exaltado em nossas vidas,igrejas e ministérios, e que, como sequóias, possamos permanecer firmes diante das muitas tribulações e desafios da caminhada.

4. Sobre Águas Profundas – A Influencia de Agostinho

Aos 71 anos de idade, quatro anos antes de morrer, no dia 28 de agosto de 430, Aurélio Agostinho passou ao seu assistente Eraclius, os deveres Administrativos da Igreja de Hipona, localizada na costa norte da África. Em sua época, Agostinho já era um gigante no mundo cristão. Na cerimônia, Eraclius levantou-se para pregar, tendo atrás de si o velho Agostinho assentado. Tomado por um forte sentimento de inadequação na presença de Agostinho, Eraclius disse: “O Grilo Canta, o Cisne está Silencioso.”(Piper)

Estudar a vida e a obra do africano Aurélio Agostinho é um grande desafio e um prazer jubiloso. Grande desafio porque Agostinho é um escritor profundo, não dado a superficialidade. Seus pensamentos, sua teologia, sua mística e vida cristã prática, é uma árvore frondosa onde muitos se deliciam da sua sombra.Prazer jubiloso porque suas obras nos inspiram a querer uma vida mais intensa, mais envolvente diante do Deus Supremo, dando a Ele a glória merecida e digna.

Agostinho é uma montanha a ser escalada; é uma floresta a ser explorada. Sua lucidez de Deus e seus ensinamentos,vêm ao longo desses anos, ajudando e desafiando o mundo cristão. Não é em vão que os dois maiores vultos da Reforma Protestante, Martinho Lutero e João Calvino, tiveram em Agostinho e em sua teologia, o fundamento para desarraigar os falsos ensinos do clericalismo em seus dias.

Dr. John Piper em seu livro “ O Legado da Alegria Soberana: A Graça Triunfante de Deus na Vida de Agostinho, Lutero e Calvino” diz que: “Por 1600 anos, Agostinho não tem se mantido silencioso. Nos anos de 1500, sua voz cresceu e ecoou fortemente nos ouvidos de Martinho Lutero e João Calvino. Lutero foi monge agostiniano, e Calvino citava as palavras de Agostinho mais do qualquer outro Pai da Igreja”.

Piper, avança e mostra o quanto Calvino foi influenciado por Agostinho:
“ Lutero era monge agostiniano, e Calvino mergulhou nos escritos de Agostinho, como é possível perceber pelo aumento do uso dos escritos de Agostinho em cada edição das Institutas. Na edição das Institutas de 1536, ele cita Agostinho vinte vezes; três anos depois, 113 vezes; em 1543 foram 128 vezes; 141 em 1550 e , finalmente, nada menos que 342 vezes em 1559 (Apud,p.24,2005)

Isso deixa claro para nós a influencia de Agostinho na vida de Calvino e logicamente em sua teologia e vida mística. Se Lutero e Calvino que foram ícones de uma profunda reforma no tecido da igreja em épocas complexas se valeram dos escritos de Agostinho é sábio nós teólogos, pastores, professores da Bíblia seguir seus rastros educacionais e teológicos.

5. Mente e Coração: O Pássaro de Duas Asas

O estudioso reformado Dr. R.C.Sproul disse que, precisamos de um Agostinho ou um Lutero para nos falar novamente, caso contrário, a luz da graça de Deus será não somente ofuscada, mas, completamente extinta da nossa época.

Sproul, tem razão, pois, Agostinho levava o Reino de Deus a sério, era um poeta cristão e um teólogo fértil. Ele era profundamente comprometido com as sagradas Escrituras. Sua visão da graça de Deus e da pecaminosidade humana, é algo fantástico. Ele tratou de maneira séria a glória de Deus e sua soberania, todavia, Agostinho não era um teólogo árido, sem tempero, hermético. Do contrário, nutria uma vida de espiritualidade apaixonada, amava o seu Deus e dedicava sua vida à causa de Cristo.

Em Agostinho, aprendemos que a teologia não suga e nem mata nossa vida com Deus; em Agostinho, aprendemos que a teologia não mumifica e petrifica a nossa alma; em Agostinho , aprendemos que estudar sobre Deus é tão valioso quanto, estar com Deus e falar de Deus de maneira santa, apaixonada e íntima; em Agostinho, aprendemos que estudar e fazer teologia deve ter um único alvo: “glorificar a Deus e edificar a igreja de Cristo”, o que foge disso, em Agostinho, é pecado e humanismo excêntrico.

"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.
Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti, não existissem. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.

Fulguraste e brilhaste e a tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e , respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz.

Quando estiver unido a ti com todo o meu ser, não mais sentirei dor ou cansaço. Minha vida será verdadeiramente vida, toda plena em ti. Alivias aqueles a quem plenamente satisfazes. Não estando ainda repleto de ti, sou um peso para mim mesmo" ( Agostinho, Confissões 354-430)

6. Histórias Rasgadas: O Grave Erro dos Cristãos


Vivemos um momento de nossa época que, como cristãos, temos rompido com a história da igreja. Muitos desconhecem os caminhos de Deus pelo viés da história cristã. A igreja tem se esquecido daqueles que estiveram antes de nós, abrindo caminhos para andarmos sobre o pendão da verdadeira doutrina cristã, frente aos ensinos errados de épocas passadas.

Creio que é pecado, falta de respeito e consideração, rasgarmos a história da igreja ou até mesmo, desconsiderá-la. Creio que é um erro passarmos com os nossos pés atolados de pressa e orgulho por cima dos feitos de Deus, através dos seus servos no passado. Devemos, no mínimo, considerar e apurar o que eles falaram sobre Deus , conhecer as doutrinas centrais da fé, como também, as suas vidas.

A Palavra de Deus nos adverte dizendo: “Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a Palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre” ( Hb. 13.7-8 NVI).
“ Escreva-se isto para as futuras gerações, e um povo que ainda será criado louvará o Senhor”. ( Sal. 102.18 NVI).

“Grande é o Senhor e digno de ser louvado; sua grandeza não tem limites. Uma geração contará á outra a grandiosidade dos teus feitos; eles anunciarão os teus atos poderosos”. ( Sal.145.4).

7.A Vida de Aurélio Agostinho: De Boêmio a Bispo – (354-430 d.C.)
“Todos os que ouviam falar disso se perguntavam: O que vai ser este menino? Pois a mão do Senhor estava com ele.” ( Lc.1.66).

“Fecisti nos ad Te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te - Criastes-nos para vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós.” (Agostinho – Confissões)

Antonino Tonna Barthet, um profundo estudioso da vida de Agostinho, traça em seu livro “ Síntese da Espiritualidade Agostiniana”, um perfil completo da sua vida. Ele inicia com o nascimento de sua mãe Monica, em 331 e encerra com a morte de Agostinho no dia 28 de Agosto de 430.

Agostinho, juntamente com Jerônimo e Ambrósio, são pais pós Nicenos do Ocidente. A influencia deles percorre até hoje o campo da doutrina cristã .Percorrer a vida de Agostinho desde seu nascimento, passando por suas crises, vocação, bispado e morte, é uma aventura prazerosa. Porém, iremos nos deter apenas nos pontos mais importantes de sua trajetória.

Agostinho nasceu no dia 13 de novembro de 354 no povoado de Tagaste, importante cidade da Numídia no norte da África. Esta cidade tinha influencia romana.
Seu pai Patrício, era africano romanizado, pagão, e se batizou na hora da morte. Patrício, segundo o historiador Hans Von Campenhausen, era descendente de algum veterano romano que havia se estabelecido numa região pertencente hoje ao interior da Argélia e próxima à fronteira com a Tunísia.

O pai de Agostinho queria que ele fosse advogado, porém, este seguiu uma carreira mais intelectual. Aos 19 anos tornou se professor de retórica. Já sua mãe, Mônica, era uma mulher cristã e piedosa que influenciou muito a vida do teólogo Aurélio Agostinho.

Seus pais se empenharam para dar uma boa educação para Agostinho. Ele estudou na capital Catargo e neste processo Agostinho se apaixonou por uma jovem que lhe deu um filho chamado Adeodato.

8.A Bíblia não Vale Nada: Agostinho e Sua Vida Maniqueísta

Para Agostinho a Bíblia não tinha nenhum atrativo, era simplória e primitiva. Ele não encontrou na Bíblia respostas para as suas inquietações.

“ O que senti nessa época, diante das Escrituras, foi bem diferente do que agora afirmo. Tive a impressão de uma obra indigna de ser comparada á majestade de Cícero. Meu orgulho não podia suportar aquela simplicidade de estilo” ( Confissões,p.65,livro III).

Agostinho, se volta então para o Maniqueísmo. Mani o seu fundador foi martirizado em 276, pois suas idéias eram anti-bíblicas, misturada com o gnoticismo. Agostinho foi maniqueísta durante nove anos de 374 a 383.

O historiador Bruce L. Shelley, em seu livro “História do Cristianismo ao Alcance de Todos”, sintetiza a doutrina maniqueísta.

“A crença fundamental dessa religião pintava o universo como cenário de um conflito eterno entre duas forças, uma boa e outra má. O ser humano como conhecemos, é um produto misto, a parte espiritual de sua natureza consiste do elemento bom, e a física, do mau. Sua tarefa é libertar o bem dentro de si do mal; e isso pode ser atingido pela oração, mas especialmente pela abstinência de todos os deleites do mal: Riquezas, luxúria, vinho, carnes, casas luxuosas e assim por diante ( p.143)

Um dos grandes problemas do Maniqueísmo, abraçado por Agostinho era a sua visão errada de Jesus Cristo. Para eles o verdadeiro Jesus espiritual não tinha corpo e não morreu. Jesus Cristo tinha somente uma tarefa que era ensinar os homens a sair do reino da escuridão e entrar no reino da luz. Eles também descartavam o Antigo Testamento.

9.A Cidade de Milão a Pregação de Ambrósio e a Conversão de Agostinho ao Cristianismo.

Em 383 Agostinho vai morar na cidade de Roma. No ano 384 ele se muda para Milão para ser professor na Universidade Estadual de Milão. Agostinho tinha nesta época 30 anos. Neste tempo ele começa a ser influenciado pela pregação cheia de poder e graça do bispo Ambrósio. Primeiro Agostinho foi para a igreja não com interesse em conhecer a Cristo, mais de aprender sobre a pregação de Ambrósio, todavia a Palavra de Deus transformou o coração sedento de Agostinho que deixa o maniqueísmo e abraça o cristianismo.

O erudito F.F. Bruce relata com maestria a conversão de Agostinho:

“ No verão de 386 d.C., Agostinho, com trinta e dois anos de idade, estava sentado, chorando, no jardim do seu amigo Alípio em Milão. Já há dos anos ele era professor de retórica nessa cidade , e tinha todos os motivos para estar satisfeito, com sua carreira profissional até então, mas ele estava consciente de uma profunda insatisfação interior. Ele estava praticamente persuadido a começar uma nova vida , mas faltava –lhe a resolução para romper com a antiga. Sentado ali, ele ouviu uma criança cantar numa casa próxima: TOLLE, LEGE! TOLLE, LEGE! “ PEGUE E LEIA PEGUE E LEIA. Tomando o rolo que estava ao lado do seu amigo – uma cópia das cartas de Paulo, por sinal seus olhos caíram sobre as palavras que conhecemos como as últimas de Romanos 13 “ Não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne mo tocante ás suas concupiscências. Agostinho então relata. Não quis ler adiante, nem precisava, instateneamente, no fim dessa frase, uma luz claríssima inundou meu coração, e toda a Escuridão da dúvida desapareceu.

10. O BATISMO DE AGOSTINHO E UMA NOVA VIDA SURGI.

Depois desta experiência profunda, assim como foi na vida do Apóstolo Paulo na estrada de Damasco, Na véspera da Páscoa seguinte , em 387, Agostinho juntamente com o seu filho Adeodato e seu amigo Alípio, foram batizados por Ambrósio na cidade de Milão.

A sua mãe Monica sempre foi uma crente fervorosa que amava a Deus, grande foi a sua alegria em ver seu filho Agostinho e seu neto Adeodato se renderam aos pés de Jesus Cristo e te-lo como seu único salvador e senhor.
Agostinho que viveu uma vida cheia de pecado, liberal e mundana, depois do batismo disse: “ As inquietações da nossa vida passada acabaram”.

11. AS PERDAS E AS MORTES NA VIDA DE AGOSTINHO.

Agostinho, deixou a sua velha vida de pecado e agora é um novo homem. Depois desta experiência com Deus, Agostinho decide voltar para a África, mais a viagem sem ele saber seria dolorosa, cheia de marcas, cheia de lágrimas. Ele sai de Milão junto com sua amada mãe Monica, que era uma coluna na vida de Agostinho, contudo perto de Roma a mãe de Agostinho acaba falecendo antes de chegar na África. A morte de sua mãe feriu profundamente a vida do novo convertido que seria mais tarde o mais influente teólogo de todos os tempo.

Em meio a dor e a separação, Agostinho retorna para sua cidade. Mais no outono de 338, em Tagaste, Agostinho mais uma vez é ferido pela morte, seu amado filho que foi batizado junto com ele em Milão morre. A morte de Adeodato, faz o mundo de Agostinho infeliz, ele se desespera, entra em crise, a sua dor e desgosto é visível. Agostinho não tem mais prazer nesta vida esta ansioso em deixar este mundo de dor.

Mais os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. Três anos depois a pedido da população Agostinho foi ordenado pastor. Ele era assistente do Bispo Valério. Após a morte de Valério, Agostinho é ordenado como Bispo de Hipona.

Ele tinha 43 anos de idade e pelos próximos 33 anos, até sua morte em 430, ele pregou, escreveu, combateu o donatismo, maniqueísmo, o pelagianismo e influenciou a igreja na idade média e ate os dias de hoje.
Agostinho, escreveu muitas obras importantes. Como o Sermão da Montanha, O Livro de Confissões, Cidade de Deus, etc.

O livro de Confissões, um dos livros mais famosos e lidos de Agostinho, trata de questões importantes da vida cristã e também da doutrina. Agostinho de madeira madura e teológica abre o seu coração, fala da grandeza de Deus, fala da graça e da pecaminosidade do homem.

Uma das frases mais famosa do livro é: Criastes-nos para Ti e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Ti.” “ Que eu te busque, Senhor, invocando-te; e que eu te invoque, crendo em ti”. “Mudas as coisas sem mudar o teu plano; recuperas o que encontras sem nunca teres perdido. (Agostinho – Confissões)

No livro Sermão da Montanha, Agostinho comenta ponto por ponto do Sermão proferido por Jesus Cristo. Foi o primeiro livro de comentários sobre o discurso de Jesus Cristo em Mateus 5-8.

O teólogo Agostinho morreu em Hipona no dia 28 de agosto de 430. Uma das grandes obras escritas pela pena de Agostinho foi “Sermone Domini in Monte”, ou seja, “o Sermão do Monte”, proferido por Jesus Cristo, registrado no livro de Mateus e Lucas.

“ Os dois livros que constituem o Sermone Domini in Monte, são frutos do início do ministério pastoral deste mestre da exegese, que teceu esta obra entre os anos 393-394, quando contava com apenas sete anos de batismo e se encontrava com a idade de quarenta anos” (OLIVEIRA,1992,p.7-9).

Agostinho foi entre os escritores da Antigüidade o primeiro a nos fornecer um comentário sobre o Sermão do Monte. Ele via o Sermão do Monte como um programa perfeito de vida cristã, ele mesmo menciona isto:

“Quem quiser meditar com piedade e recolhimento o Sermão que o Nosso Senhor Jesus Cristo pronunciou na montanha, tal como o lemos no Evangelho segundo Mateus, encontrará aí, creio eu, um programa perfeito de vida cristã destinado à direção dos costumes. Ousamos fazer tal afirmação, sem temeridade, pois nos baseamos nas próprias palavras do Senhor.”(AGOSTINHO,1992,p.23).

Agostinho, de maneira clara e teológica, nos mostra o Sermão do Monte como um agente contracultural e não intracultural . É também de grande valia notar que Agostinho inicia seu comentário falando de Mt.7:24-27 e termina seu comentário com Mt.7:24-27.

Tal fato evidencia que, não adianta só ouvir o Sermão, mas, acima de tudo, praticá-lo, afinal, era este o pensamento de Agostinho. A vida crista não é um amontoado de conhecimento técnico, mas, uma vida de prática e de ternura . É na praticidade do Sermão que se estabelece a contracultura e onde Deus é glorificado. Para Agostinho, Pai da igreja, este Sermão não é algo utópico mas, um programa de conduta cristã proferida pelo Senhor Jesus Cristo para a Sua Igreja.

Este programa de vida cristã, sintetizado por Agostinho, nos mostra de forma clara, a convicção que ele tinha das palavras proferidas por Jesus Cristo na qual, todo pastor deve ter. Neste texto, ele rompe com o conformismo de sua época e mostra que o cristão deve viver na contracultura e não na intracultura.

O próprio Agostinho, anos atrás vivia na conformidade de sua época.Ele era um cristão boêmio e isto fica claro no seu livro “ Confissões” na qual ele dizia que “cercado pelo um ruído fervilhar dos amores ilícitos”( 1984,p. Livro III - 59).
A conformação do sistema desgraçava a vida dele, todavia, Agostinho é encontrado por Cristo. Antes, ele dizia do fervilhar dos amores ilícitos, mas agora ele diz "Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti"(1984,p.Livro I,15).

A vida pastoral não é um amontoado de conhecimento técnico, mas, uma vida de prática e de ternura, dizia Agostinho.É na praticidade do Sermão que se estabelece a contracultura e onde Deus é glorificado. Para Agostinho, Pai da igreja, este Sermão não é algo utópico mas, um programa de conduta cristã proferida pelo Senhor Jesus Cristo para a Sua Igreja. O comentário de Agostinho após sua ordenação a seu superior Valério, tem ajudado na teologia pastoral e na sua visão de ver Deus:

“Antes de mais nada, peço que vossa santa sabedoria considere que não há nada nesta vida, e especialmente em nossos dias, mais fácil, agradável e aceitável aos homens que o ofício de bispo, sacerdote ou diácono, caso suas tarefas sejam desempenhadas de uma forma mecânica ou aduladora; mas nada é mas inútil, deplorável e digno de punição aos olhos de Deus. Por outro lado, nada nesta vida e , especialmente, em nossos próprios dias, é mais difícil, pesado e arriscado que estes ofícios; porém nada é mais abençoado aos olhos de Deus, se nosso serviço estiver de acordo com as ordens do capitão.” ( STITZINGER p.63)

No seu grande e famoso Livro Cidade de Deus, Agostinho, escreveu para dar uma resposta bíblica e teológica sobre a invasão da cidade de Roma. Ele tinha 56 anos de idade.

Ele comparou a tomada de Roma com o julgamento de Sodoma. Agostinho demorou 16 anos para escrever este livro e fazer comparações entre a cidade de Deus e as cidades do mundo “Roma”.

Agostinho escreveu: De Adão, ate ao final dos tempos, a humanidade habitará duas cidades. A cidade do mundo, são unidas pelo amor ás coisas temporais. Na cidade de Deus o que une é o amor apenas a Deus.

A cidade celestial ofusca a cidade de Roma, sem comparação. Lá, em vez de vitoria, há verdade, em vez de alta posição social, santidade; em lugar de paz, felicidade , em lugar de vida, eternidade.

Agostinho contribuiu de maneira brilhante para a teologia e suas varias expressões. Depois do Apóstolo Paulo foi a pessoa mais influente no mundo da cristandade. Ele chegou as raias do pensamento não somente de Deus, sua graça, soberania, beleza etc. mas também deixou um arcabouço ecoteológico.

No livro “Ecoteologia Agostiniana”, percebemos sua grande contribuição na área ecologia e da criação a partir do nada. Agostinho contribuiu na campo teológico, pastoral, exegético, espiritual etc.

Quando Agostinho esta com 76 anos, os vândalos varreram o ocidente ate Hipona. Em seus dias finais, Agostinho fixou salmos em seu quarto para que pudesse ler da cama. Ele acreditava que o fim do mundo estava próximo, e no dia 28 de agosto de 430, Agostinho morreu. Agostinho contribuiu de maneira brilhante para a teologia e suas varias expressões.

Agostinho viveu num época difícil onde os vândalos sitiaram Hipona durante 14 meses ate que os muros foram rompidos em 431 e a maioria da população estava morrendo de fome e muitas já mortas.

12.PILARES DA VIDA CRISTÃ – O CAMINHO DA VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE. SETE DEGRAUS AGOSTINIANO.

Antonio Tonna Barthet estudioso na vida de Agostinho reuniu em forma sistemática os escritos de Agostinho que nos revelam a alma do pastor. A Síntese da Espiritualidade Agostiniana mostra Agostinho ensinando o caminho sadio da vida cristã.

O Bispo de Hipona revela o caminho da espiritualidade cristã que deve estar pulsante na vida do pastor e da igreja. Ele se refere a sete degraus que todo CRISTÃO deve pisar. Ao longa de 600 páginas de teologia e vida prática, Agostinho, orienta, ensina, exorta, educa a igreja a viver de maneira santa, teológica, apaixonada e vigilante diante de Deus.

Iremos apenas esboçar o olhar de Agostinho neste estudo para a nossa compreensão. Em virtude do espaço não iremos abordar exaustivamente os sete degraus mais apenas pontuar para a nossa reflexão.

1) “ Temor”. Para O grande teólogo Agostinho esse é o primeiro degrau para a perfeição cristã. De maneira profunda ele trabalha este ponto na vida da igreja e dos filhos de Deus.

2) Depois ele prossegue mostrando que o segundo degrau da vida cristã é a “ Piedade” que jamais pode ser negligenciada na vida do pastor e dos servos de Deus.

3) Agostinho diz que o terceiro degrau da vida cristã é justamente a “Ciência’ que é o reconhecimento da nossa finitude.

4) O quarto degrau para Agostinho é justamente a “ Fortaleza”. Que é a oração diante de Deus.

5) Agostinho prossegue mostrando que o quinto degrau da vida cristã é o “ Conselho” e com isso ele invoca o exercício da caridade, a ajuda aos necessitados, o perdão a misericórdia, o uso correto da riqueza. Ele nos mergulha nas Bem aventuranças como formatação da vida cristã .

6) O sexto degrau da vida cristã que todo pastor e toda a igreja deve observar é a “ Purificação do Coração”. Agostinho diz que devemos ser puros e agradar a Deus e não aos homens, devemos ter reta intenção no louvor, afastar de nós a soberba, a inveja, a hipocrisia, a adulação, a avareza, a ira o ódio, pois isso é um impedimento para a vida cristã.

7) Por fim ao longo de suas 600 páginas de orientação o Bispo de Hipona diz que o sétimo degrau da vida cristã é a “ Sabedoria”. Ele diz que somos felizes na exata medida que gozamos da felicidade de Deus. Ele diz que nós devemos ter bons olhos, pois olhos sadios nos isenta da mancha corporal e isso é sabedoria, pois á fé é que pode conferir a alma a necessária limpeza.

13. O Hedonismo Cristão em Aurélio Agostinho.

Agostinho também diz que a felicidade deve ser buscada e ela é uma possessão, aqui neste lado de cá a terra tem felicidade mas o gozo real reside em Cristo. Ele salienta que é sábio imitarmos a Cristo o filho de Deus. “ queres caminhar? Eu Sou a verdade. Recusas morrer? Eu Sou a vida, pois não existe lugar para onde ir, a não ser para mim.”

De fato todo o estudante de teologia, todo pastor e todos os cristãos devem trilhar o seu ministério pela estrada que é Cristo e buscar nele toda a verdade pastoral, pois nele encontraremos vida para o nosso ministério e para a igreja.
Agostinho também fala com maestria neste ponto da vida do pastor alertando a igreja.

Seja qual for a pessoa que vos governe, que é ela senão o mesmo que sois?, têm carne, é mortal, come, dorme, levanta da cama, nasceu vai morrer, por isso se cogitais o que ela é em si mesma, vereis que é simples homem no entanto diz Agostinho honrando – o como anjo, vós encobris o que ele apresenta de fraco.
Agostinho também se reporta para os pastores mercenários e diz que existem pastores que gostam muito de ostentar título de pastores, porém não desejam cumprir o dever de pastor.

O mercenário fala de si para si: que tenho eu a ver com isso? Cada qual faça o que quiser. Desde que meu sustento esteja salvo, resguardada a minha honra, para mim basta: cada um caminhe por onde puder (p.581). Mas Agostinho diz que devemos perseverar pois nisso reside a sabedoria em ser fiel e viver uma vida santa e de serviço.

Que Deus seja glorificado

Sola Deo Glória.

Síntese do estudo realizado pelo professor de teologia, pastor Carlos Augusto Lopes – Referente a Abertura da Conferência teológica do Seminário Teológico do Sul, Tubarão - Santa Catarina sobre a “A Vida e A Obra de Aurélio Agostinho”.Se for usar este trabalho favor citar a fonte.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo










quarta-feira, 2 de novembro de 2011

HOMENAGEM A REFORMA PROTESTANTE: PILARES DA FÉ EVANGÉLICA: SAÚDE, ENSINO e LEGADO.

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, no sopé da montanha do Harz na cidade de Eislebem. O reformador Martinho Lutero era filho de um minerador de prata de classe média. O jovem foi destinado para estudar direito, porém, assustado durante uma tempestade perigosa numa estrada próximo de Erfurt, ele prometeu a Santa Ana tornar-se monge caso fosse livre.

Todavia o que levou Lutero a tomar o hábito foi o seu profundo interesse pela própria salvação. Em junho de 1505, antes de completar os vinte e dois anos de idade, Lutero ingressou no Mosteiro Agostinho de Erfurt. Desgostoso com a Igreja Romana em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg e fez a reforma protestante.

Pesquisas recentes no campo da história da reforma diz que Lutero em vez de afixar as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, ele enviou as teses para o seu bispo Gerônimo Schulz, de Brandemburgo. O fato é que Lutero rompeu com Status quo do tacão da religiao fria, excludente, intimista, clerical, vazia e manca que nutria em sua base uma hermeneutica estranha, confusa e ditatorial, fazendo assim a reforma protestante celebrada e comemorada no dia 31 de outubro "Dia da Reforma".

João Calvino Teólogo protestante francês nasceu na Picardia, e estudou filosofia na universidade de Paris entre 1523 e 1527. Em 1528, recebeu o grau de mestre em teologia. Em 1536 na Suíça publicou sua grande obra com 26 anos, As Institutas.

Calvino faleceu a 27 de maio de 1564, foi um dos grandes teólogos e reformador que sistematizou a teologia, escreveu vários comentários da Bíblia e foi fiel a Deus em seu ministério como pastor, exegeta e reformador. O teólogo alemão Karl Bart disse que Calvino é uma catarata, uma floresta primitiva, na qual ele se assentaria e passava o resto da sua vida somente com Calvino.

A Reforma Protestante tem nos deixado um fabuloso tesouro doutrinário oriundo da própria Palavra de Deus e omitido e esquecido por vários gerações. Muitos foram os servos de Deus que lutaram pela reforma como John Wicliff, João Huss, Savonarola, Zwínglio, Tyndale etc. Para isso, admitimos e transmitimos as verdades da nossa tradição eclesiástica: “Sola Scriptura, Sola Christi, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Glória.” São esses cinco termos latinos que devem sintetizar a nossa fé cristã, pois todo o ensino sadio da Bíblia tem aqui seu fundamento clássico.

Sola Scriptura (Somente a Escritura) Segundo Heinrich Heppe, a Sagrada Escritura é única fonte e norma para todo o conhecimento cristão. Logo a base dos ensinamentos é, e sempre será, a Escritura Sagrada, que está acima da tradição, da razão, do pragmatismo, da cultura, acima de tudo. O cristão autêntico deve sempre ser dirigido pela palavra de Deus.

Com Sola Scriptura queremos afirmar que a Bíblia é a palavra de Deus, que ela é inerrante, infalível e que tem autoridade em tudo. Essa doutrina é importante para a purificação, crescimento e preservação da igreja. Segundo a Declaração de Cambridge, “...a obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para a nossa salvação do pecado e é o padrão pela qual todo comportamento cristão deve ser avaliado

Sola Christi (Somente Cristo) Cremos piamente que somente Cristo Jesus, o Filho de Deus, pode salvar o homem (Jo. 3.16), que não existe mais ninguém que possa mediar o homem a Deus (ITm. 2.5), nem justificá-lo, se não for Cristo, o Senhor (Rm. 5.1), pois somente ele e mais ninguém é o caminho a verdade e a vida (Jo.8.33).

É preciso que entendamos que somente ele e mais ninguém pode perdoar os nossos pecados (Jo. 1.29) e nos dar vida eterna (Jo.1 0.10). A Declaração de Cambridge conclui: “Por isso reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai”.

Sola Gratia ( Somente a Graça) É a Doutrina da Graça, na Bíblia, que aponta todos os méritos para Cristo. Com a sola gratia queremos afirmar, como igreja de Cristo, que a salvação do homem pecador é obra exclusiva da graça de Deus. O homem pecador não tem poder para se salvar e nem para viver de maneira bíblica, neste mundo.

Como sublinha a Bíblia em Tito 2.11, somente Deus pode ofertar isso para o homem: “Por que a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. A Bíblia também diz em Efésios 2.8-9 o seguinte: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus não vem de obras, para que ninguém se glorie”.

Sola Fide (Somente a Fé) É pela graça de Deus que somos justificados, mediante a fé em Cristo Jesus. A fé é um dom de Deus, como diz a Bíblia em Romanos 1.16.17 “Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé”.

A fé salvífica é uma confiança plena no sacrifício de Jesus Cristo por mim, logo, eu obedeço a ele e me sujeito a ele, pois justificado através d’Ele eu vivo de fé em fé. É importante dizer também que a fé não é um sentimento vago. O homem não pode ser salvo se ele não crer inteiramente no sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef.2:8-9).

Soli Deo Glória (Somente a Deus a Glória) Cremos que o único que pode receber toda a glória é somente Deus (Mt. 5.16; I Cor.10.31; Ef.3.21); que o homem é um ser que glorifica a Deus e não um ser que recebe a glória (Rm. 15.5-6; I. Cor.3.21). O humanismo tem colocado o homem num patamar que a Bíblia não coloca (Jer. 9.24). A Bíblia deixa claro que Deus é o único que pode receber toda a glória (Sal. 29.8; Lc. 2.14; Rm. 11.36), pois tudo vem das Suas mãos — Tanto a graça comum (Sal. 19.1; Mt. 5.45) quanto a graça salvífica (I Co. 6.20). O breve Catecismo de Westminster (1647) sublinha: “Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegrá-lo para sempre". O próprio Jesus Cristo definiu a sua vida e ministério dizendo: "Eu te glorifiquei na terra” (Jo. 17.4) É assim que deve ser a igreja, que é fiel a Deus: Ela deve glorificar a Deus em tudo.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

terça-feira, 1 de novembro de 2011

João Calvino: Teólogo, Eclesiástico e Pastor (1509-1564).

A excelência do ministério pastoral e da vida cristã prática sem dúvida alguma passa pelo caminho reflexivo de João Calvino. Alguns relegam Calvino como um teólogo sistemático, árido, outros dizem que foi um homem que trouxe problemas para o campo eclesiológico em virtude de seus estudos sobre predestinação, soberania de Deus etc.

Calvino de fato nesta geração tem sido esquecido, não citado, não estudado, principalmente nos círculos das igrejas livres não tradicionais não históricas. Os poucos materiais em língua portuguesa “ ad fontes ac fontibus” ( ás fontes e a partir das fontes) de Calvino faz ele um desconhecido entre nós pastores.

Ele é lembrado nos livros de história como Reformador ao lado de Lutero, Zuinglio, Knox etc. mais isso nada contribui para a excelência do ministério pastoral que Calvino tanto se dedicou e amou.

Ele também é mencionado no meio acadêmico da ala teológica brasileira principalmente a reformada, calvinista que nutri no tecido da sua teologia um calvinismo brasileiro.

Enquanto escrevo percebo que minha mesa esta rodeada de livros de Calvino, mais também sei que a maioria dos líderes brasileiro não tem nenhum livro dele a não ser uma panfletagem calvinista aliatória. A verdade é que João Calvino servo de Deus gastou horas e até mesmo a sua vida toda escrevendo com fidelidade os comentários da Bíblia como também sua magnífica Institutas e também outros escritos.

Fora isso Calvino infelizmente é uma sombra, uma peça de museu teológico, um desconhecido caricaturado pouco lembrado, pouco querido, pouco desejado, pouco estudado, pouco citado.

A igreja hodierna (hoje) fascinada com o pragmatismo, com o receituário fácil de crescimento, superficialidade doutrinária, não tem conhecido Calvino como um homem de Deus, simples, humilde, espirituoso e de uma habilidade e consciência pastoral que eleva o ministério no patamar excelente.

As igrejas históricas no Brasil não tiveram habilidade como receptora da herança reformada de passar a tradição para as igrejas novas. Fossilizaram-se em sua própria denominação e preconceito e esqueceram de contribuir calvinisticamente para a igreja brasileira.

Um dos importantes comentários que Calvino escreveu sobre a segunda epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios foi lançado em solo brasileiro pelas Edições Parakletos em 1995 com muita dificuldade e desdem, todavia o editor Valter Graciano Martins foi um visionário em manter firme suas convicções diante dos ventos contrários.

Hoje temos vários livros a disposição do leitor graças também a editora Fiel que deu acesso barato para lermos Calvino. Barato e acessível o preço do livro dando assim a chance para os líderes mais simples poder ter em sua prateleira mais duradouro e valioso o aprendizado oriundo desta literatura.

Todavia Calvino é um estranho entre nós. Poucos conhecem ele. Poucos soletram Calvino. Poucos se dedicam a estudar Calvino. Poucos tem a habilidade de ser calvinista sem ser fundamentalista. Poucos tem a esperteza de comunicar Calvino para essa geração.

Carlos Ribeiro Caldas Filho, ministro presbiteriano, mestre em missiologia pelo Centro Evangélico de Missões em Viçosa (MG), doutor em Ciência da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo em seu estudo “ Do Lugar dos Estudos em João Calvino na Formação dos Pastores da Igreja Presbiteriana do Brasil”, mostra que os livros sistemáticos de Strong e de Berkoff marcaram toda uma era na estrutura dos pastores presbiterianos no Brasil do que as Institutas de João Calvino.

Ele mesmo diz que os estudos em Calvino foi relegado a segundo plano e muitos pastores conhecem Calvino só de ouvir falar. Caldas ainda diz

A forte ênfase em estudos em teologia sistemática contribuiu para que se conheça pouco Calvino (...). A ênfase em teologia sistemática na formação dos pastores da IPB contribuiu para que Calvino seja pouco estudado e consequentemente pouco conhecido (...). A IPB será beneficiada se enfatizar estudos em Calvino no processo de preparação formal de seus pastores ( Fides Reformata, 1996,p.52-53).

Devemos mencionar aqui a grande contribuição que a Editora Fiel fez introduzindo vários temas de Calvino em sua revista " Fé Para Hoje - número 35-nov/2009".O tema da Revista era sobre "Calvino 500 anos". Vários autores deram sua contribuição e isso enriqueceu muito nossa visão de João Calvino em suas vários patamares.

O teólogo Franklin Ferreira trabalhou a temática " João Calvino e a Pregaçào das Escrituras". O teólogo Valter Graciano Martins, trabalhou a temática sobre "Calvino Falando Português. Já o Dr. Augusto Nicodemus Lopes repensou "João Calvino e a Universidade". O estudioso Solano Portela trabalhou "O Calvinismo e o Governo Civil". O estudioso Gilson Santos colaborou com o tema "Calvino e a Estética". Harry L. Reeder, teceu comentários sobre " Calvino como Pastor, Evangelista e Missionário. Eric J. Alexander finalizou trabalhando o tema " A Supremacia de Jesus Cristo.

De fato é uma ótima introdução ao mundo dos pensamentos e propósito de Calvino em portugués de maneira sintética , pontual e diretiva. Parabenizamos aqui a Editora Fiel por disponibilizar este material para os cristãos brasileiros.

Nosso interesse em Calvino neste estudo é de cunho poemênico (pastoral) aqui não reside uma teia de “calvinófobos” e nem “calvinólatras”. Desejamos perceber a excelência do ministério cristão na perspectiva dele para a nossa geração.

Estudar Calvino de fato é um pélago prazeroso, pois ele é profundo e no dizer de Barth é uma catarata. Sabemos da limitação equacionada e da complexidade de sintetizar Calvino, todavia a tentativa de olhar para o mestre genebrino é salutar para o (re) descobrimento da pastoral do século XXI e da vida cristã.

João Calvino Teólogo protestante francês nasceu na Picardia, e estudou filosofia na universidade de Paris entre 1523 e 1527. Em 1528, recebeu o grau de mestre em teologia. Em 1536 na Suíça publicou sua grande obra com 26 anos, As Institutas. Calvino faleceu a 27 de maio de 1564, foi um dos grandes teólogos e reformador que sistematizou a teologia.

O teólogo alemão Karl Bart disse que Calvino é uma catarata, uma floresta primitiva, na qual ele se assentaria e passava o resto da sua vida somente com Calvino. (GEORGE,1994,p.164).

Calvino tem tido uma grande influência para a teologia. Seus conceitos e sua lucidez teológica têm ajudado vários teólogos ao longo da história. Alguns pensam que Calvino só tratou a questão da "predestinação", todavia Calvino tem contribuído muito para a teologia pastoral, pois Calvino não foi só um exegeta, teólogo, mas foi pastor e eclesiástico, pois ele fala da igreja em suas Institutas de maneira firme, versa sobre doutrinas centrais da fé, mostra a importância da oração na estrutura pastoral e na igreja e tece comentários profundos nos livros da Bíblia sendo um profundo expositor bíblico e critica de maneira eloqüente os falsos mestres tendo sempre a autoridade das escrituras em punho.

A carreira pastoral de Calvino se deu em Genebra. Ele foi convidado por Guilherme Farel para ajudar estabelecer a reforma protestante naquele lugar. Calvino em 1536, tinha escrito suas Institutas, quatro anos mas tarde ele foi convidado por Farel para ficar em Genebra.

A princípio Calvino estava somente de passagem e recusou o convite feito, porém Farel foi incisivo e até amaldiçoou Calvino e ele entendeu que era um chamado de Deus para a sua vida e aceitou o encargo.

Na cidade de Genebra Calvino pregou, ensinou, visitou, escreveu, organizou a igreja etc. Porém ali na doce Genebra Calvino enfrenta seu primeiro embate pastoral e junto com Farel foi perseguido e expulso da cidade em 1538.

Calvino vai para Estrasburgo e ali é acolhido por Martinho Bucer que convida ele para pastorear os refugiados franceses. Calvino pastoreia essas pessoas durante três anos na qual foi de suma importância para a sua vida. Ali ele casou, perdeu seu filho e ficou viúvo mas com perseverança continuou sua jornada pastoral e acadêmica.

Como pastor sua casa era um lugar de encontro, de refúgio, de aconselhamento, de ajuda, de orientação, de ensino e de conversas. Calvino tinha saúde fraca, debilitada, frágil, mas nada impedia de realizar suas atividades pastorais em Estrasburgo. Ele visitava, escrevia carta, dava estudo, orientava as pessoas, pregava e era muito ativo.

Mais em 1541 pela providência divina João Calvino retorna a Genebra, a Genebra da luta, a Genebra que o expulsou, a Genebra da dor, a Genebra dos dias amargos, a Genebra que Calvino não almejava mais pois se sentia desqualificado de estar ali.

Mas obediente à chamada divina ele retorna para o seu antigo ninho pastoral e quando chega na sua igreja e sobe no púlpito faz questão de abrir a Bíblia na mesma página que tinha pregado seu último sermão.

Agora ali Calvino desenvolve com firmeza, destreza o seu ministério pastoral por mas de vinte anos influenciando profundamente a história da igreja. É bom recordar que Calvino nas suas atividades pastorais viveu uma vida simples.

No início do seu ministério ele passou dificuldades no campo financeiro ao ponto de vender parte de sua biblioteca mas sempre foi fiel ao seu chamado pastoral como pregador, expositor, ensinador, ajudador e articulista da reforma.

Dr. Timothy George em seu livro Teologia dos Reformadores afirma que poucas pessoas na história do cristianismo tem sido tão supremamente estimado ou tão mesquinhamente desprezado como João Calvino.

Timothy tem razão quando diz que Calvino não é um anjo nem um diabo. Ele foi como declarou Lutero para todos os cristãos “ santo e pecador” " simul justus et peccator "(1994,p.167).

Em suas Institutas o reformador João Calvino deixa claro o seu pensamento sobre o ministério pastoral. Ele diz que os pastores de fato devem anunciar o evangelho de Cristo e administrar os sacramentos.

O pastor deve ensinar publicamente e também deve ensinar particularmente conforme diz Paulo (At.20.31). Calvino também salienta sobre a doutrina da disciplina na igreja, pois segundo ele somos atalaias na igreja e não podemos ser negligentes caso contrário Deus irá requerer de nossas mãos o sangue daqueles que pereceram por ignorância ( Ez.3.17,18).

Calvino também dá ênfase ao ministério local e adverte o transito de cá para lá entre os pastores salvo quando uma igreja necessitar da ajuda mútua. Ele diz que cada um deve estar contente no lugar aonde esta “no seu limite”.

O teólogo Timothi George em seu livro Teologia dos Reformadores nos ajuda a compreender a visão de Calvino sobre a Poemênologia. Timothi mostra que para Calvino os temas neotestamentários bispo, ancião (presbítero), ministro, pastor e às vezes mestre, referem- se todos ao mesmo ofício.

Qual é o papel do pastor? Para o reformador é “Representar o Filho de Deus”, “Erigir e estender o reino de Deus”, “Ocupar-se da salvação das almas”, “Governar a igreja, que é patrimônio de Deus” .

Para Calvino cada cidade deveria ter pelo menos um pastor. Para ele a ordenação era um rito solene de instituição ao ofício pastoral, ele referiu a ordenação como um sacramento e admitiu que era conferida graça por meio desse sinal externo.

Para ele os pastores devem ser completamente ensinados nas Escrituras, para que possam instruir corretamente a congregação na doutrina celeste. " Como um pai repartindo o pão em pequenos pedaços para alimentar seus filhos".

Para o reformado a pregação não deve ser apenas sã doutrina mais benefício concreto, ou seja, deve ser prática, aplicável. Calvino de maneira firme e didática diz que o pastor precisa de duas vozes: uma para reunir o rebanho e outra para afugentar os lobos e os ladrões. Para ele o papel disciplinador do pastor exige que sua própria conduta esteja acima de qualquer censura.

Em seu comentário sobre a epístola de Romanos Calvino diz que os ministros devem exercer seu ofício com dedicação e o ensino da palavra de Deus é que forma e instrui a igreja ( Calvino,432-433). Em seu comentário na carta ao Efésios, Calvino traça para nós ministros do evangelho a grande importância do nosso ofício.

Ele declara que o fato da igreja ser governada pela proclamação da Palavra não constitui uma invenção humana, o fato de termos ministros do Evangelho, é um dom divino. Calvino entende que doutrinar é dever de todos os pastores, porém há um dom particular “ mestre”, de interpretar a Escrituras, para que a sã doutrina seja conservada e um homem pode ser doutor mesmo que não seja apto para pregar ( Calvino p. 122)

Calvino diz que ao seu ver os pastores são responsáveis pelo rebanho do Senhor. No seu comentário sobre a epístola aos Hebreus Calvino diz que o escritor ao Hebreus se preocupa com os pastores que exercem seu ministério com lealdade quando escreve para os irmãos ( Hb.13.17).

O escrito aos Hebreus diz que devemos Obedecer e honrar, porém aqueles que são pastores e só possui o título e usam mal o título de pastor e traz vergonha e destruição para a igreja merecem mui pouca reverencia e menos confiança ainda. O ofício ministerial é de tal proporção que envolve as lutas mas renhidas e os perigos mais extremos ( Calvino, p.395-397)

De fato a igreja evangelica brasileira deve redescobrir os pilares da reforma protestante que nada mas é do que voltar para a Palavra de Deus e colocar ela em grande valor no tecido do ministerio pastoral e da vida do cristão normal.

Que Deus Abençoe a todos

Sola Gratia

Estudo realizado pelo
Pastor Carlos Augusto Lopes
em homenagem ao Reformador João Calvino.